Marcas de café esperaram o preço cair. Como eles erraram, a alta deve chegar ao consumidor

Café da marca Starbucks vendido no supermercado nos EUA
O Starbucks disse que os produtos da empresa vendidos em supermercados serão afetados ‘de maneira mais significativa’ do que outras áreas do negócio. Foto: SeongJoon Cho/Bloomberg

Torrefadores de café que estavam apostando na queda do preço da commodity optaram por não fazer hedge no ano passado, evitando a compra de contratos futuros quando o valor começou a subir. Agora que a aposta deu errado — o preço continua alto e a expectativa é que ele ainda demore para descer —os consumidores devem pagar o preço.

Empresas que normalmente tomam posições no mercado futuro para se protegerem das flutuações de preços mudaram de estratégia em 2024. A ideia era conseguir um melhor acordo mais tarde. Mas as escassez de suprimentos persistiram e os preços continuaram subindo, deixando empresas como JDE Peet’s NV e Starbucks sem opção a não ser aumentar os custos para os consumidores.

Atualmente, um indicador para o hedge dos compradores está próximo do nível mais baixo em mais de 11 anos. Isso significa que menos torrefadores entraram em contratos futuros, fixando o preço de compra do café que depois moem, torram e vendem aos consumidores finais. Em outras palavras, os valores que eles estão pagando pelos grãos está menos protegido da alta recente.

Com isso, a previsão é que os torrefadores transfiram seus custos muito mais altos para esses consumidores. Vale lembrar que eles já estão pagando o valor mais elevado de todos os tempos. Os preços médios para uma libra de café moído atingiram um recorde de US$ 7,25 pela libra em fevereiro, de acordo com o Bureau de Estatísticas do Trabalho dos EUA.

Aumento inevitável

“A realidade é que aumentos de preços significativos são inevitáveis”, disse Rafael Oliveira, diretor executivo da gigante do café JDE Peet’s NV, em uma teleconferência de resultados em fevereiro.

A diretora financeira da Starbucks, Rachel Ruggeri, disse em janeiro que os produtos da empresa vendidos em supermercados serão afetados “de maneira mais significativa” do que outras áreas do negócio. Ambos os executivos disseram esperar que os preços mais altos pressionem o volume de vendas no varejo.

Entenda a alta do preço do café

Os preços do café subiram para um recorde no início deste ano após uma seca prejudicar as colheitas no maior produtor, o Brasil. As escassez significaram que o mercado se inverteu em uma situação chamada backwardation, com contratos de datas anteriores sendo mais caros do que os posteriores.

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Como resultado, manter grãos em estoque tornou-se muito custoso e os torrefadores estão operando “dia a dia” — comprando grãos crus em lotes muito pequenos e entrando no mercado no último momento possível. Operadores com dificuldades financeiras também estão lutando para financiar o transporte dos grãos de onde são produzidos para onde são consumidos.

“Os torrefadores estão lutando”, disse Thiago Cazarini, um corretor baseado na maior região produtora de café do Brasil. “Alguns deles provavelmente neste momento estão trabalhando abaixo do custo das matérias-primas, de toda a operação.”

Torrefadores de menor a médio porte, entretanto, continuam a se afastar do mercado de futuros.

Gregorys Coffee, uma empresa com sede em Nova York com mais de 50 locais nos EUA, costumava usar futuros para fixar preços para quase todo o seu café. Mas agora, dada a estrutura do mercado e os preços altos, “a maioria das pessoas que estão no nosso tamanho não está vendo uma grande oportunidade para fazer hedge”, disse o diretor executivo Gregory Zamfotis.

Tomas Araujo, um associado de negociação na StoneX Group Inc., disse que os torrefadores estão esperando o mercado cair antes de colocar novos hedges. “O problema é que não tenho certeza se chegaremos lá.”

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