Preço do boi no ano da virada: ‘Brasil pode encontrar uma oportunidade na Austrália e EUA’

O indicador Cepea/Esalq do boi gordo acumula uma queda de 1,51% na parcial de 2025, após um mês de janeiro marcado por valorizações que começaram a perder força em fevereiro. No mesmo comparativo, o indicador Cepea Esalq do bezerro (MS) avançou 2,7%.

Na semana passada, o IBGE informou que, em 2024, o Brasil registrou abates de 39,27 milhões de cabeças de bovinos, representando um aumento de 15,2% frente a 2023, até então o maior valor da série, dando sequência à tendência de crescimento verificada em 2022.

Segundo Wagner Yanaguizawa, analista de proteína animal do Rabobank, os números preliminares de janeiro e fevereiro deste ano mostram um avanço com relação ao comparativa anual. No entanto, houve uma desaceleração de janeiro para fevereiro.

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“Isso é consequência de fim de ano bastante aquecido em termos de demanda, juntamente com o custo de produção de grãos favorável, principalmente para o confinamento, por conta do preço que o gado bovino atingiu. Isso que trouxe um incremento de volume quando a gente faz o comparativo anual”.

Para os próximos meses, o Rabobank projeta uma desaceleração na oferta, com uma queda principalmente no segundo semestre em termos de animal confinado. Sendo assim, o banco projeta a virada do ciclo do boi nesse período, com menor oferta e valorização do bezerro.

“Vamos ver também uma menor oferta de fêmeas, período que a gente entende como de estação de monta, por conta da valorização do bezerro, que já está acontecendo. No curto prazo, terá uma desaceleração de oferta, porém, a gente entende que nas próximas semanas vamos ter um incremento de oferta do gado engordado a pasto”.

O Rabobank trabalha com uma curva decrescente de preços no primeiro semestre, mas um pouco mais estável entre o primeiro e segundo trimestre.

O mercado do boi após a virada do ciclo

O segundo semestre do ano deve ter preços maiores por uma combinação de custos maiores e um período maior sazonal de maior exportação, principalmente para China.

“Com relação aos patamares de preços, isso ficará muito mais atrelado ao consumo doméstico, porque entendemos que a perda de competitividade da carne bovina com relação às proteínas mais baratas ficará mais evidente no segundo semestre, por conta de preços maiores para o gado, em um momento que a entrada da safrinha de milho deve deixar os custos de alimentação mais estabilizados, o principal ponto de atenção para os preços”.

Yanaguizawa ressalta que é difícil precificar o valor da arroba do boi, mas acredita que os preços não devem ultrapassar os registrados no fim do ano passado, ficando em torno de R$ 320 e R$ 330 no fim de 2025, em um cenário otimista.

As tarifas de Trump

Quanto as tarifas impostas por Donald Trump, o analista lembra que os EUA representaram apenas 5% da carne que a China importou no ano passado. Em 2024, o Brasil expandiu em 60% sua participação no mercado norte-americano.

“Existe também a possibilidade de aumento da tarifa para a Austrália. Quando analisamos as exportações dos EUA para o país, elas estão interrompidas há pelo menos 20 anos. Esse é um ponto de atenção porque pode haver algum de retaliação, o que seria positivo para o Brasil, já que os EUA é o nosso principal concorrente neste mercado. É uma possibilidade. Fora isso, os EUA estão em um momento de redução de oferta muito forte, num momento de demanda elevada, e o Brasil se insere como alternativa”, explica.

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No segundo semestre, o Brasil pode encontrar na China uma oportunidade para expandir seus volumes de exportação, em um momento de menores estoques e demanda maior.

“A Austrália tem reduzido seus embarques de wagyu para o país asiático por conta de queda de preço e demanda, então pode ter um efeito de substituição que jogue a favor da carne brasileira”, diz.

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