Fuzil viaja 1.300 km pelo Brasil e é usado em diferentes assaltos

Fuzis apreendidos após assalto em Guarapuava, ParanáDivulgação/PM-PR

A Polícia Federal, através do Sistema Nacional de Análise Balística (Sinab), descobriu que um mesmo fuzil usado no mega-assalto a um banco de Araçatuba (SP), em 2021, também foi utilizado meses depois em outro crime, no Paraná.

As informações foram divulgadas com exclusividade pelo programa Fantástico, da TV Globo. A reportagem aponta que a arma foi usada em diferentes assaltos pelo país em quase um ano e meio, através de uma rede de arsenal do crime, compartilhado entre quadrilhas.

A arma rodou mais de 1.300 quilômetros e foi usada em pelo menos mais um crime até finalmente ser apreendida, e esse é apenas um dos muitos casos de armas viajando centenas de quilômetros por todo o território brasileiro que foram descobertos pelo Sinab, aponta o Fantástico.

Assalto com troca de tiros em Araçatuba e Guarapuava

Criminosos durante mega-assalto em Araçatuba (SP)Divulgação

Bandidos fortemente armados assaltaram dois bancos do município paulista em agosto de 2021, ação que fez moradores reféns e causou um prejuízo de R$ 17 milhões às instituições.

No mega-assalto que chocou o país, duas vítimas morreram e outras cinco pessoas ficaram feridas. Dois suspeitos foram mortos pela polícia. Segundo uma testemunha ouvida pela TV Globo, um fuzil chegou a cair no chão durante a troca de tiros, e um dos criminosos ordenou que ele fosse recuperado. 

Sete meses depois e a 600 km de distância, um dos fuzis utilizados no crime esteve presente em outra ação criminosa, em Guarapuava, Paraná. Na ocasião, uma transportadora de valores sofreu tentativa de assalto. Em troca de tiros entre policiais e bandidos, um agente foi morto e outros dois ficaram feridos. O caso aconteceu em abril de 2022.

Os projéteis deixados após a ação em Araçatuba passaram por perícia e foram comparados com o crime de Guarapuava. Essa foi uma das etapas da reconstrução do percurso feito pelo fuzil, no qual a Polícia Federal utilizou um banco de dados nacional. “É uma nova forma de trabalhar, proativa, que tende a levar a um número muito maior de soluções de crimes cometidos com o uso de arma de fogo”, diz o perito criminal Lehi Sudy dos Santos à TV Globo.

A análise confirmou que ao menos um fuzil, agora em posse da PF, esteve nos dois eventos. Lehi, que é coordenador do Sinab, contou à reportagem do Fantástico que até hoje a PF tem obtido ligações dos materiais coletados e inseridos no sistema sobre o assalto de Araçatuba.

Funcionamento do sistema

Em quatro anos de funcionamento do banco de dados, mais de quatro mil ocorrências com ligações entre armas foram descobertas — como do fuzil em questão. Esse tipo de ligação recebe o nome de “hits”. 

“Após o crime de Araçatuba, não obtivemos nenhum hit. Era o início do banco, mas ficou lá registrado. Alguns meses depois, em Guarapuava, a gente começou a ver dois grandes assaltos cometidos com as mesmas armas”, disse o perito da PF ao programa.

O sistema permite o cruzamento de informações que são inseridas em diferentes investigações dentro do país. Por meio desse cruzamento, se torna possível entender a origem dos armamentos e as ligações entre crimes.

O fuzil foi apreendido em janeiro de 2023, em Campinas (SP), local distante do último crime conhecido em que a arma foi usada. Na ocasião, bandidos mascarados entraram em um bar e mataram duas pessoas. A confirmação de que era o mesmo fuzil aconteceu depois do cadastramento no sistema.

A arma está armazenada em uma delegacia do município, aguardando para ser destruída pelo Exército Brasileiro.

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