Mercados em queda livre: três dias de vendas eliminam US$ 9,5 trilhões

O massacre nos mercados financeiros se agravou nesta segunda-feira, com investidores apreensivos abandonando a esperança de que o presidente Donald Trump mudasse sua política tarifária.

As bolsas despencaram, elevando as perdas globais acumuladas nos últimos três dias para cerca de US$ 9,5 trilhões. Na Europa, o índice Stoxx 600 caiu 5%, enquanto a Ásia teve seu pior desempenho diário desde 2008. Investidores buscaram refúgio em ativos como títulos do Tesouro americano e o iene japonês.

A decisão do presidente Trump, anunciada durante o fim de semana, de manter suas tarifas comerciais apesar dos alertas de recessão feitos por economistas renomados e das críticas de gestores de fundos, como seu próprio apoiador Bill Ackman, reforçou a percepção de que há poucas chances de mudança na estratégia presidencial. Trump afirmou aos jornalistas no Air Force One no domingo que “é preciso esquecer um pouco os mercados”, demonstrando indiferença ao colapso em curso em Wall Street.

Operadores aumentaram suas expectativas para cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) ainda este ano, projetando o equivalente a cinco cortes de 0,25 ponto percentual cada. Contratos de swaps indicaram risco de um corte emergencial na taxa, com uma probabilidade de 40% de ocorrer já na próxima semana, muito antes da reunião oficial do Fed em maio.

“Parece que o mercado entrou no modo ‘vender agora e perguntar depois’”, afirmou Stephan Kemper, estrategista-chefe de investimentos do BNP Paribas Wealth Management. “Os investidores estão buscando o ponto de máxima dor, aquele em que a administração Trump ou o Fed acabem cedendo.”

Os mercados globais sentiram os efeitos do movimento de venda generalizada. As ações da Tesla Inc. despencaram até 10% depois que Daniel Ives, analista da Wedbush Securities e tradicionalmente otimista com a empresa, cortou seu preço-alvo. Apple Inc., Amazon.com Inc. e Citigroup Inc. perderam cerca de 5% cada.

Liquidação nas bolsas europeias e asiáticas

Na Europa, o índice Stoxx 600 caiu ao menor nível desde dezembro de 2023, enquanto o índice alemão DAX chegou a recuar brevemente 10% antes de se recuperar parcialmente. Empresas do setor de defesa, algumas das ações com melhor desempenho neste ano, estiveram entre as mais afetadas, já que investidores liquidaram ativos vencedores para aumentar suas reservas em dinheiro.

Na Ásia, o índice Hang Seng despencou 13%, e a Coreia do Sul chegou a interromper brevemente as ordens de venda por meio de negociações automatizadas. Na China, autoridades discutiram no fim de semana possíveis medidas para estabilizar a economia e os mercados financeiros, incluindo acelerar planos de estímulos ao consumo, segundo fontes próximas ao assunto.

Enquanto isso, analistas alertaram sobre a possibilidade de quedas ainda mais profundas caso uma recessão se concretize. John Stoltzfus, da Oppenheimer & Co. – até março um dos analistas mais otimistas – foi o mais recente a reduzir sua previsão para o índice S&P 500, de 7.100 para 5.950 pontos ao final do ano. Embora o novo alvo ainda represente uma recuperação potencial de 17%, Stoltzfus destacou em nota aos clientes que a incerteza está “em níveis difíceis de serem assimilados pelos investidores”, agravada por uma narrativa negativa aparentemente interminável.

Queda potencial de até 17% na bolsa americana

Lori Calvasina, da RBC Capital Markets, apresentou uma visão mais pessimista, afirmando que o S&P 500 pode cair até os 4.200 pontos se houver uma precificação completa de recessão, representando um recuo de 17% em relação ao fechamento de sexta-feira.

Em Singapura, no coração do distrito financeiro, Mingze Wu, operador de câmbio da empresa StoneX, observou que muitas negociações estão sendo pressionadas e que a liquidez vem desaparecendo rapidamente. “Os investidores tentam decifrar os movimentos de Trump e os riscos de retaliações, mas isso está simplesmente impossível de ler”, afirmou. “As pessoas estão realmente assustadas com o que está acontecendo.”

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