Famoso por GoT e extinto há 12 mil anos, lobo-terrível é recriado geneticamente

Pela primeira vez na história, os humanos trouxeram uma espécie extinta de volta à vida — ou, pelo menos, com as mesmas características. É o lobo-terrível (Aenocyon dirus), extinto há 12.000 anos, habitante das Américas. A empresa Colossal Biosciences, responsável pela criação dos camundongos-lanosos, com características de mamutes, foi a responsável por trazer os grandes canídeos de volta.

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Chegando a 80 kg e até 1,80 m de comprimento e 97 cm de altura, os lobos-terríveis estavam vivos apenas na cultura pop, famosos por sua representação na série televisiva Game of Thrones, da HBO. 

Nesta segunda-feira (7), a Colossal Biosciences anunciou que dois espécimes criados por eles, nomeados Rômulo e Remo (nome dos fundadores mitológicos de Roma, que foram amamentados por uma loba), já têm seis meses de idade, e uma fêmea chamada Khaleesi (um dos nomes de Daenerys Targaryen, de Game of Thrones), três meses. Mas eles não são clones


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A recriação dos lobos-terríveis

Quando falamos de trazer animais de volta à vida, é comum pensar em Jurassic Park e na coleta de DNA antigo para a clonagem. A técnica da empresa, no entanto, foi bem diferente: dentes de 12 mil anos e um crânio de 72 mil anos de fato foram usados para estudar a genética dos lobos-terríveis, mas o passo seguinte consistiu no uso de edição genética (via CRISPR Cas-9) para reescrever o DNA de uma espécie próxima, os lobos-cinzentos (Canis lupus), e inserir a informação em óvulos.

 

Os óvulos foram, então, desenvolvidos até o estágio embrionário e implantados em barrigas de aluguel de cães domésticos. As características dos lobos-terríveis estão todas lá: pelos brancos e compridos, musculatura avantajada, ombros e cabeças mais largos, corpo grande. Eles não são idênticos geneticamente aos seus “parentes” extintos, mas retêm as características mais importantes deles.

O trio é mantido em uma reserva com 8 km² nos Estados Unidos, em localização desconhecida, para evitar curiosos. Eles são alimentados diariamente e estão sendo estudados pelos cientistas, e não devem ser soltos na natureza, já que não possuem a expertise necessária para sobreviver. Além disso, é preciso saber se a edição genética não trouxe problemas de saúde incidentais.

A abordagem da Colossal Biosciences é semelhante com os outros animais que a empresa planeja “trazer de volta”: o experimento com os camundongos-lanosos, por exemplo, demonstrou a capacidade de ativar os genes responsáveis pela pelagem comprida e grossa e o metabolismo acelerado dos mamutes-lanosos, o que deve ser feito em elefantes-asiáticos até 2028 — não será um mamute geneticamente idêntico aos antigos mastodontes.

Os lobos-terríveis já têm seis meses, no caso dos dois primeiros espécies, e três meses, no caso da fêmea mais nova — eles são ariscos e se comportam como caçadores, como os lobos selvagens (Imagem: Colossal Biosciences/Divulgação)
Os lobos-terríveis já têm seis meses, no caso dos dois primeiros espécies, e três meses, no caso da fêmea mais nova — eles são ariscos e se comportam como caçadores, como os lobos selvagens (Imagem: Colossal Biosciences/Divulgação)

Quanto às motivações da companhia, a justificativa é ajudar a mitigar o impacto negativo dos seres humanos na natureza. Nos Estados Unidos, a população de veados cresce com poucas limitações, então devolver uma espécie como o lobo-terrível ajudaria a manter seu espalhamento em cheque.

O mesmo raciocínio se aplica ao tilacino (ou tigre-da-tasmânia), marsupial extinto cujo retorno ajudaria a população de quolls da Oceania, que a empresa planeja também ressuscitar. No caso dos mamutes, o esforço busca reocupar o nicho ecológico deixado pela sua extinção — a espécie derrubava árvores e controlava o crescimento de gramíneas, deixando o ambiente do norte mais gelado, ajudando no clima.

Há controvérsias, já que os lobos-terríveis se extinguiram provavelmente pela sua especialização na cadeia alimentar, caçando mamutes e bisões-de-cornos-longos, que, ao sumirem do planeta, deixaram pouco alimento no nicho da espécie. Por serem mais generalistas, os lobos-cinzentos sobreviveram melhor. Não se sabe o futuro dos lobos-terríveis no mundo, mas sua existência já está fazendo história — e controvérsia — na ciência.

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VÍDEO: Robô de uma espécie extinta

 

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