100 dias de Trump: tarifas geram temor de recessão e isolam os EUA

As primeiras ações do segundo mandato de Donald Trump sugerem um cenário preocupante para os próximos anos de governo. O ex-presidente dos EUA, reeleito sob promessas de crescimento econômico e combate à inflação, vem enfrentando críticas por medidas que podem minar sua própria agenda — especialmente no campo comercial.

Entre os poucos avanços, Trump conseguiu retomar a expansão da produção energética americana e encerrar a crise migratória na fronteira. Ele também tem revertido políticas que considera um ataque aos “valores tradicionais” dos EUA, como programas com ações afirmativas.

Leia mais

  • Como o tarifaço de Trump pode ajudar o Brasil por um lado – e bagunçar nosso coreto por outro 

100 dias de Trump e as tarifas

No entanto, mesmo em temas populares entre seus eleitores, o excesso tem sido um problema. O exemplo mais claro é a tentativa de interferência na gestão de universidades como Harvard, ou ações de deportação que podem comprometer o direito ao devido processo legal.

Mas o maior risco nestes 100 dias de Trump, segundo analistas, está em sua política comercial.

O prsidente dos EUA impôs tarifas agressivas sobre uma ampla gama de importações — incluindo produtos da China — com o objetivo de proteger a indústria americana.

O efeito, porém, pode ser o oposto: aumento de preços, escassez de produtos e desaceleração econômica.

Investidores como Ken Griffin, um dos maiores doadores republicanos, classificaram a estratégia como um “tiro no pé” que prejudica a imagem dos EUA como líder econômico global. Quem se beneficia é a China, que tem se aproximado dos parceiros tradicionais dos EUA como alternativa comercial mais confiável.

Enquanto Xi Jinping agradece silenciosamente, Trump insiste em aplicar tarifas até mesmo sobre aliados — medida que dificulta a formação de uma frente unificada para conter práticas desleais da China no comércio global. Na semana passada, Trump chegou a chamar críticos da sua política de “amantes da China”, em um comentário que deve ter divertido Pequim.

A comparação mais próxima seria com o colapso do sistema Bretton Woods em 1971, sob Richard Nixon — uma mudança abrupta na política econômica que contribuiu para inflação e instabilidade nos anos seguintes.

100 dias de Trump e os países

Na arena internacional, Trump busca retomar influência no Oriente Médio e aumentar a pressão sobre o Irã.

No entanto, sua postura ambígua em relação à guerra na Ucrânia e sua tolerância a Vladimir Putin despertam preocupação.

Especialistas alertam que uma eventual rendição forçada da Ucrânia pode ter desdobramentos graves para a posição dos EUA frente a regimes como o da Coreia do Norte, Irã e China — especialmente diante das tensões em Taiwan.

Trump ainda promete fechar cerca de 200 novos acordos comerciais e até reverter tarifas sobre a China, mas até agora as mudanças não aconteceram.

Mas qualquer recuo seria um movimento político de grande impacto — algo comparável ao “momento Mitterrand“, em referência à guinada liberal do socialista francês nos anos 1980.

Leia mais

  • ‘Tarifa não é uma palavra bonita’: os CEOs que perderam o medo e estão criticando Donald Trump

Ações militares

Na política externa, Trump tenta reposicionar os EUA. Ele aumentou a pressão sobre o Irã e retomou ações militares contra os rebeldes houthis no Oriente Médio, em contraste com a postura mais hesitante do governo Biden.

O maior ponto de preocupação, no entanto, está na abordagem unilateral para resolver o conflito na Ucrânia. Trump vinha evitando críticas diretas a Vladimir Putin enquanto pressionava Kiev a aceitar concessões arriscadas. Um armistício mal desenhado pode abrir caminho para novos avanços russos e afetar o equilíbrio geopolítico global.

Analistas alertam que, se a crise na Ucrânia terminar em fracasso, os efeitos sobre a credibilidade dos EUA serão comparáveis à retirada desastrosa do Afeganistão em 2021. Isso enfraqueceria a dissuasão americana em relação a ameaças de países como Irã, Coreia do Norte e, especialmente, China — que poderia se sentir encorajada a avançar sobre ilhas estratégicas de Taiwan.

Trump já afirmou que responderia com tarifas, caso isso ocorra. Mas esse trunfo já está sobre a mesa — e, até aqui, tem mostrado pouca eficácia.

Postura mais agressiva

Donald Trump foi reeleito, em parte, pela memória positiva deixada por sua economia no primeiro mandato. Mas aquele desempenho teve como base uma agenda tradicional do Partido Republicano, com foco em corte de impostos e desregulamentação.

Agora, em seu segundo mandato, o presidente tem priorizado uma postura mais agressiva no comércio exterior e na política internacional — e os primeiros resultados não são animadores. Se não mudar de rota, corre o risco de repetir o histórico de segundos mandatos malsucedidos.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.