Mais Preparadas, Mulheres Ocupam 12% das Cadeiras em Conselhos

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

Mesmo com níveis de escolaridade mais altos e trajetórias profissionais sólidas e marcadas por experiências diversas, as mulheres ainda ocupam apenas 12% das cadeiras em conselhos de administração no Brasil. O dado é do estudo Women at the Top, do Evermonte Institute, especializado em recrutamento para alta gestão, que analisou o perfil de 98 conselheiros e mapeou os principais entraves à equidade de gênero nesses espaços.

De acordo com o levantamento, as executivas entrevistadas possuem 49% mais formações acadêmicas e 87% mais certificações do que seus colegas homens. Além disso, somam, em média, 16 experiências profissionais antes de alcançar uma posição em conselho — um número 14% superior ao dos homens. “As conselheiras entrevistadas relataram que, ao longo da carreira, sentiram a necessidade de serem sempre as mais preparadas na sala”, afirma Helena Schröer Bagatini, sócia do Evermonte Institute. “Essa busca incessante por excelência, embora muitas vezes traga reconhecimento, também cobra um preço alto: reforça a desigualdade estrutural e coloca sobre as mulheres o fardo de precisar provar que merecem estar onde estão.”

Conselheiras melhoram a tomada de decisão

A maioria das conselheiras ouvidas relata que ainda são as únicas representantes femininas nos conselhos em que atuam. A falta de representatividade contribui para o silenciamento e dificulta a entrada de novas lideranças femininas nesses espaços. “Estamos mudando o mercado de dentro para fora. Mas o acesso ao sistema ainda é restrito.”

Uma pesquisa conduzida pelas professoras Margarethe Wiersema, da Universidade da Califórnia, e Louise Mors, da Copenhagen Business School, mostra como a presença feminina tem um impacto relevante nos boards. Elas entrevistaram executivos e executivos que, juntos, atuaram em mais de 200 empresas de capital aberto nas principais bolsas de valores dos EUA e da Europa.

O levantamento indica que, quando chegam aos conselhos – ambientes ainda majoritariamente masculinos – as mulheres não se calam nem seguem as normas já estabelecidas. Pelo contrário, abrem mais espaço para discussões profundas.

As conselheiras chegam às reuniões altamente preparadas, se mostram dispostas a reconhecer quando não sabem algo, fazem perguntas relevantes e abrem discussões que acabam moldando as decisões. Uma das entrevistadas citou que a presença de mulheres nesses espaços reduz o risco das tomadas de decisão, já que os assuntos são analisados com mais cuidado.

Porta de entrada

A maioria das nomeações para conselhos ocorre por meio de indicações informais, que favorecem perfis semelhantes aos já existentes – majoritariamente masculinos. “Mais de 80% das cadeiras no Brasil são ocupadas por homens, e poucas companhias têm processos estruturados de busca ou critérios claros de nomeação”, afirma a sócia do Evermonte Institute, citando os resultados da pesquisa.
Embora o estudo não traga um recorte racial, é possível afirmar que mulheres negras enfrentam uma sub-representação ainda mais acentuada nesses espaços.

O networking, peça-chave para acessar posições em conselhos, costuma ser menos acessível para as mulheres, o que torna a entrada nesses espaços ainda mais desafiadora. No entanto, aquelas que já entraram identificam caminhos que ajudam a abrir portas. Participar de fóruns especializados, como o WCD (Women Corporate Directors), foi um ponto em comum entre as entrevistadas. “Esse pode ser um passo importante para quem busca construir credibilidade e ampliar conexões nesse meio.”

Outros grupos e iniciativas também trabalham pela formação de conselheiras e equidade de gênero nos conselhos, como o 30% Club Brazil; o Conselheira 101; Comitê 80 e 8, do Grupo Mulheres do Brasil; e o Programa Diversidade em Conselho, do IBGC.

A idade de ingresso e permanência nos conselhos também revela padrões. A maioria das conselheiras assumiu sua primeira cadeira após os 40 anos, geralmente após décadas de experiência no mercado. Atualmente, a faixa etária média dessas profissionais está entre 51 e 60 anos — mesma média observada entre os homens. No entanto, acima dos 60, a presença masculina é significativamente maior, refletindo os lentos avanços na representatividade e a maior permanência dos executivos. Em média, os homens permanecem 22,9% mais tempo por cargo do que as mulheres.

Como ampliar a presença de mulheres em conselhos

Uma possível resposta para acelerar a mudança é a adoção de cotas, especialmente em empresas que ainda estão nos estágios iniciais da pauta de diversidade. “As cotas funcionam como um mecanismo de aceleração. Mas é essencial garantir não apenas a entrada, e sim a permanência com voz ativa, influência e escuta qualificada.”

Segundo Bagatini, ampliar a presença feminina nos conselhos envolve rever os critérios de nomeação, fortalecer a transparência nos processos de sucessão e investir na formação de lideranças femininas ainda durante a trajetória executiva. “Para que mais mulheres ocupem posições em conselhos, a transformação precisa partir de dentro das organizações.”

A executiva reforça que diversidade não é apenas uma agenda de inclusão, mas uma estratégia de negócios. “Quando diferentes perspectivas estão representadas, os conselhos têm maior capacidade de questionamento, ampliam o repertório e reduzem o risco da homogeneidade de pensamento”, afirma. Estudos corroboram, demonstrando que essa diversidade se traduz em melhores resultados financeiros.

A executiva destaca que diversidade vai além de uma pauta de inclusão — é uma estratégia de negócios. “Quando diferentes perspectivas estão representadas, os conselhos ganham em capacidade crítica, ampliam seu repertório e reduzem o risco da homogeneidade de pensamento”, afirma. Estudos já demonstraram que essa diversidade se traduz em melhores resultados financeiros.

O post Mais Preparadas, Mulheres Ocupam 12% das Cadeiras em Conselhos apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.