O que é disformia financeira e como ela está afetando a Geração Z

Viagens em classe executiva para destinos paradisíacos, bolsas de grife, jantares em restaurantes que você sempre sonhou experimentar — nem que fosse só um único prato. Tudo isso, claro, ostentado em tempo real nas redes sociais. Do outro lado da tela, alguém tentando fechar as contas do mês, torcendo para sobrar algum dinheiro para o delivery de sábado à noite ou, quem sabe, uma viagem dentro do próprio estado em um feriado prolongado ou no final do ano. O mais curioso é que, muitas vezes, essas duas pessoas têm a mesma idade e rendas semelhantes. Então, por que uma parece viver uma vida de luxo enquanto a outra mal consegue sair da rotina apertada de gastos? Para explicar esses dois casos, um termo vem ganhando força na internet: disformia financeira.

@jorgegrimberg

dismorfia financeira em 3minutosdemoda

♬ original sound – Jorge Grimberg – Jorge Grimberg

o que significa disformia financeira?

Money dysmorphia, ou disformia financeira, é um termo usado para descrever a diferença entre a percepção que alguém tem da própria situação financeira e a realidade dos seus números. Às vezes, a pessoa está financeiramente estável, com uma reserva de emergência, mas ainda assim se sente em constante aperto. Outras vezes, a situação é inversa: sem nenhuma reserva, já endividada, continua gastando como se estivesse tudo sob controle. Em ambos os casos, há uma dificuldade de enxergar as finanças com clareza e isso leva a decisões desequilibradas, baseadas na ansiedade, na comparação com os outros e em um sentimento crônico de inadequação.

Loira deitada na cama, usando celular rosa e segurando caneca. Cenário de conforto, mas sugere distração.

Foto: @matildadjerf (Reprodução/Instagram)

o que os dados dizem

Falando em Brasil, muitos jovens da chamada Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) mal deram os primeiros passos na vida adulta e já enfrentam um cenário financeiro desafiador. De acordo com o Mapa de Inadimplência e Negociação de Dívidas, publicado pela Serasa em dezembro de 2024, 34,1% desses jovens estão com contas em atraso — ficando atrás apenas dos Baby Boomers, que lideram o ranking com 35,1%.

Um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) reforça esse cenário, apontando que 51% dos brasileiros entre 25 e 29 anos estão inadimplentes, enquanto entre os jovens de 18 a 24 anos o índice chega a 29%. Juntos, esses dois grupos somam cerca de 15 milhões de pessoas em situação de inadimplência — um contingente expressivo da população jovem que já inicia sua trajetória adulta com o orçamento comprometido e o poder de compra limitado.

Bolsas luxuosas em várias cores e sapatos de grife dispostos em uma poltrona, sugerindo opulência material.

Foto: @leoniehanne (Reprodução/Instagram)

entre o consumo impulsivo e o medo de gastar

A disformia financeira não é apenas um reflexo das redes sociais ou da falta de educação financeira — ela é parte de um problema estrutural. Vivemos em um mundo altamente digitalizado, onde o consumo é incentivado a todo momento: seja por influenciadores, por plataformas de compra online, por anúncios personalizados ou por feeds impecáveis que fazem parecer que todo mundo está vivendo melhor do que você. Esse ambiente cria o terreno ideal para decisões impulsivas — especialmente quando se soma à facilidade cada vez maior de acesso ao crédito. Hoje, abrir uma conta digital, pedir um cartão ou parcelar uma compra em várias vezes exige apenas alguns cliques. Sem preparo ou controle, essa praticidade pode se tornar uma grande armadilha.

E isso tudo acontece num contexto de instabilidade. De um lado, inflação, crise climática e custo de vida nas alturas. Do outro, uma vitrine infinita de luxo — onde cada viagem internacional, cada roupa nova e cada taça de espumante vira conteúdo aesthetic. Não à toa, em momentos de crise, os símbolos de status ganham protagonismo: mais do que estilo, passam a representar sucesso em meio ao caos, como disse Jorge Grimberg no “3 Minutos de Moda” sobre o assunto.

Essa distorção nasce da frustração silenciosa de quem sente que nunca é o bastante — mesmo quando está fazendo tudo certo. Reconhecer esse ciclo, seja gastando demais ou de menos, é o primeiro passo para quebrá-lo. E, para isso, conteúdos de qualidade e conversas francas sobre dinheiro são fundamentais.

Se você quer mergulhar mais no tema sobre educação financeira e com convidadas super especiais, vale ouvir o nosso podcast “O que tem na sua carteira?”, uma parceria com a B3 sobre educação financeira real, acessível e sem tabu.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.